Brasil: o país da civilização do espetáculo
Quero falar sobre um assunto: estamos nos tornando o país da civilização do espetáculo?
Civilização do Espetáculo: o Brasil caminha para isso?
A pena de morte imposta a um brasileiro na Indonésia e a consequente execução, após condenação pelo tráfico de drogas, foi o assunto do final de semana das redes sociais.
Li as mais diversas opiniões. Dos favoráveis, que querem endurecer a pena para traficantes no Brasil, aos legalistas que pregam que a legislação penal estrangeira não poderia ser aplicada aos brasileiros, até a voz dos moderados que afirmam ser a pena capital extrema para um crime que não seria – na opinião destas pessoas -,assim tão grave.
Li também opiniões favoráveis e contrárias ao pedido de clemência feito pela presidente Dilma e sobre o rotundo não recebido do duro presidente daquele país.
E li, agora na imprensa, que as relações diplomáticas e comerciais entre o Brasil e a Indonésia, ficaram abaladas por conta do episódio e que nosso embaixador foi chamado pelo Itamaraty.
Antes que me perguntem. Sou contra a pena de morte, aqui ou em qualquer lugar do mundo. Ninguém tem o direito de tirar a vida do outro, seja um bandido, seja o Estado. Lamento a morte deste brasileiro, como lamento que um dia tenha levado droga para outras pessoas, ajudando a disseminar este mal que destrói a tantos.
O fato, porém, me remeteu a outra questão. Enquanto eu lia estes temas centenas de brasileiros estavam sendo assassinados dentro das fronteiras do Brasil. Crimes bárbaros, terríveis, banais, fúteis. Em assaltos, em brigas, na violência das gangues. Mais de 50.000 brasileiros por ano perdem a vida assim. Ou seja, praticamente 140 novos assassinatos por dia.
Destes crimes apenas 8% viram processos criminais regulares, segundo dados da Anistia Internacional. Ou seja, em 92% dos casos não vamos saber o autor da violência.
Lembrei então de um livro de Mario Vargas Llosa em que aborda a civilização do espetáculo. Conta ele que no auge da crise econômica americana, com as bolsas despencando todo momento, havia uma equipe de televisão com a câmara apontada para o alto de um edifício onde trabalham os operadores. Horas se passando e nada acontecendo, o escritor resolveu perguntar para a repórter qual o assunto da pauta. E ela disse esperar que alguém, desesperado pelo prejuízo, pudesse se jogar do alto do prédio.
Ora, a notícia já não era o prejuízo incalculável de milhões de pessoas. Era necessário filmar o suicídio em função da crise econômica. Já não basta a tragédia, precisamos do espetáculo.
Costumamos dizer que o Brasil é um país pacífico. Pode ter sido. Hoje vivemos da memória e parece que não enxergamos a realidade quando analisamos o Brasil. Por aqui se mata mais do que países em guerra.
O Brasil precisa olhar para dentro.
Não dá mais para ser o país do jeitinho, da corrupção, da impunidade. Estamos perdendo princípios e valores que regem uma sociedade de respeito.
Qualquer indicador sério, feito por entidades respeitadas internacionalmente, mostra que temos sempre posições pífias em educação, desenvolvimento, competitividade comparando com outros países.
Quero propor que pensemos o Brasil de maneira diferente. Que abandonemos pequenos hábitos que nos remetem a violência. Que tal não prestigiarmos filmes de destruição e tragédias que cultuam falsos heróis, repensarmos os programas que só espalham os crimes para aumentar audiência, voltarmos nossa consciência para a ética e termos em nossos corações a mensagem da fraternidade e do bem, entre tantas coisas mais?
Que tal assumirmos que as coisas não estão bem, que os governos precisam ser reinventados, que a sociedade precisa mudar e que a paz precisa reinar?
Por certo não estou falando sozinho. Tenho a companhia de tantos que, anonimamente, estão fazendo sua parte. Vamos nos unir e dar um passo novo?